Futebol de Rua, a mística do verdadeiro futebol!

"Eu aprendi a jogar na rua, no quintal, que é como se aprende a jogar futebol." – Pelé

  Para muitos a rua foi onde descobriram o futebol, onde não havia treinadores, nem árbitros, nem marcações a delimitarem o campo, onde eram táticos sem o saber e onde as balizas eram pedras. O local onde era retratada a liberdade, onde não havia regras, e uma paixão pura pelo futebol.

  Mas estamos noutro tempo, onde a rua é em asfalto e sinónimo de perigo e insegurança, o que retrata a sociedade de hoje onde já não vemos crianças a brincar na rua.

  Onde antigamente a mãe tinha que gritar para o filho ir jantar, nos tempo de hoje sãos os pais ou encarregados de educação a levá-lo ao clube.

  Houve uma certa mudança, mudança esta, que mudou o futebol, onde a irreverência, “malandrice”, “ratice” deu lugar à organização demasiada, formatações táticas e excesso de comportamentos coletivos.

  É assim, uma necessidade atual de criar às crianças e aos jovens uma aprendizagem espontânea, retratada unicamente no futebol de rua, criar um ambiente de liberdade, onde os jovens têm de ter um autocontrolo, o saber que errou e encontrar soluções para as adversidades impostas pela natureza.

  Hoje em dia, as crianças até aos 10/11 anos treinam semanalmente 2 a 3h, há uma falta do tempo de jogo, onde quanto mais contacto com o jogo tiver mais evolui. A criança precisa de jogar para aprender e não de aprender durante muito tempo para jogar.

  Foi com as características do futebol de rua que projetou o futebol nacional, jogadores como Nani, Eusébio, Ronaldo, João Pinto, Futre, Figo, etc.., Jogadores que são e eram caracterizados pela liberdade representada em campo, pela espontaneidade, sem o medo de assumir o erro e a irreverência. 

  Os olhos familiares são um papel fundamental na formação das crianças. E o que acontece maioritariamente nos casos é os pais nos jogos/treinos dizerem umas coisas e os treinadores outras, e a criança aos olhos do treinador percebe, e por isso há também uma necessidade dos pais confiarem no treinador que está ali para ajudar no desenvolvimento pessoal dos seus filhos.

  Pois, se o treinador não ganhar, os pais no final da época querem que ele vá embora e não há uma preocupação se ele formou bem os seus filhos. Há uma exigência clara de ganhar.

  E tudo começa pelo condicionamento imposto pelos quadros competitivos aos 5, 6 e 7 anos de idade. Existe assim, uma necessidade de reestruturar os quadros competitivos nas idades mais jovens, porque se tentamos relacionar esses quadros com o nível sénior temos que esperar que depois nas bancadas as pessoas sejam como nos séniores. 

  Numa atualidade onde o treino e os treinadores são cada vez mais qualificados, os treinadores tentam retratar o futebol que aprendem, dos Séniores, nas camadas jovens demasiado cedo. É preocupante quando o treinador tenta imitar o Mourinho e por a jogar a equipa de certa forma.

  Saem da faculdade e tentam retratar tudo aquilo que aprenderam de uma forma bastante organizada e por vezes não deixam fluir a criatividade, o talento.

  Com as diversas metodologias de treino atualmente, o treinador nas camadas mais jovens deve apenas criar contextos favoráveis ao desenvolvimento, deve proporcionar uma aprendizagem espontânea.

  Estamos num ponto de viragem, onde é necessário partir da reflexão à prática, começar a pensar num futuro sustentado pela nossa formação.

  Os treinadores podem criar um treino livre, sem organização e sem intervenção por parte de um adulto, em todos os escalões. Podem utilizar somente feedbacks positivos durante os jogos, para induzir uma necessidade de a criança perceber que errou e de criar soluções para os ultrapassar e o mais importante, de criação de espaços para a prática.

  O futebol moderno é caracterizado cada vez mais pelo equilíbrio tático e excelentes comportamentos coletivos entre as equipas, mas sem criatividade, onde só um jogador com as características do Ronaldo e Messi consegue quebrar a monotonia do jogo.

  O individualismo pertence aos melhores jogadores do mundo, e foi a rua que lhes deu a conhecer o futebol.

Comentários

  1. Muito bom, o Brasil também passa por essa transição...

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    1. Muito obrigado! É cada vez mais importante os treinadores criarem situações de aprendizagem espontânea nos jovens atletas. O futebol de rua é uma necessidade constante.
      Saber que o país do samba, reconhecido mundialmente pela sua criatividade e espontaneidade em campo, também passa por essa transição é preocupante, pois o futebol é significado de espetáculo.

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