Futebol de Rua e o que os treinadores estão a fazer de errado!

  "Sou bom porque aprendi a jogar no meio da rua... tinha de usar as paredes que me ajudavam a fazer tabelas... Aprendi tudo no alcatrão" Rooney. 



  "...é preciso deixarmos que os miúdos sejam individualistas aos 10,11 anos, para termos jogadores de futebol aos 20" Francisco Silveira Ramos.

  Numa era em que parece mais do que nunca escassear o talento, procuram-se explicações. É possível que na era vivida sem treinadores ou sem treinadores qualificados tenham aparecido mais e melhores jogadores? E o que mudou?

  Sobretudo os espaços que interferem com o tempo de prática. Hoje as crianças / adolescentes não têm possibilidade de jogar futebol para além dos treinos organizados, exceptuando os trinta minutos de intervalos na escola. A base de recrutamento é infinitamente inferior, porque nem todos os pais têm possibilidade de ter os miúdos a praticar actividade física. Aquela que outrora fazíamos por nós, atrás do prédio, na terra, na calçada ou no alcatrão.

  E se a incrível redução do tempo de prática é uma desvantagem demasiado dura de ultrapassar, o que dizer quando o menor tempo de prática que encontram não é direccionado de forma qualitativa para o desenvolvimento individual do jovem jogador?

  O fenómeno Mourinho trouxe milhares pontos positivos. Porém, há sempre algo de negativo que aparece por arrasto. Hoje todos queremos ser treinadores, e o estilo de Mourinho pode trazer ideias erradas. As estrelas, o foco, os importantes, não são os treinadores. São os jogadores. Estamos numa era onde todos querem ser Mourinho ou Guardiola. Todos pretendem brilhar por cima dos jovens jogadores. Formatam-se as crianças desde bem cedo (9-10-11-12 anos) para ideias de jogo que retraem a sua individualidade. O seu talento, as suas ideias, a sua criatividade, tudo é trocado por um ego maior. Os treinadores pretendem desde bem cedo criar bases mecânicas nos seus jogos. Tomar as decisões pelos seus jovens atletas, não os deixando expressar as suas qualidades.

  E tudo se torna especialmente problemático quando no processo de treino se complica o que na verdade é tão simples. Não foi por ter treinado na rua que Rooney se tornou o jogador que é. Tivesse treinado num campo de futebol sem treinadores e com os mesmos colegas / adversários que encontrou na rua e as qualidades seriam as mesmas. A chave da rua não é o piso da prática, obviamente. É o jogo, sempre o jogo e a liberdade para decidir e aproveitar o seu talento.

  Quantos treinadores quase não usam o jogo no seu processo de treino? Apenas circuitos, e formas jogadas que terminam invariavelmente sempre com as crianças a voltarem para trás de uma fila enquanto esperam para voltar à actividade (formas que são importantíssimas em determinados momentos, mas não são tudo). Quantos treinadores não preferem a força e a base padronizada (na decisão) ao talento e à imprevisibilidade? Quantos treinadores não matam o talento por não o potenciar em jogo (no treino ou na competição), valorizando características que o tempo revelará pouco importantes para chegar ao topo?

  Quantos jovens atletas não estão a ter apenas os vinte e cinco ou trinta minutos semanais do jogo do fim de semana como o melhor período de desenvolvimento? Quantos jovens atletas não passam a semana sem jogar futebol mesmo treinando futebol? E por jogo não entenda o formal 7x7 ou 11x11. Duas balizas bastam, sem filas de espera. Sejam X contra X ou Y contra Y, ou até Y contra X.

  O treinador é importantíssimo por todos os conhecimentos que poderá transmitir. Mas se fizer mal as coisas, será mais interessante juntar as crianças e deixá-las organizar a sua própria actividade. Verá que se dividirão por duas equipas e jogando descobrirão o caminho.

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